sexta-feira, maio 26, 2006

Notas de uma preocupação

Portugal, país de engraçadinhos, boçais e génios, mitos vivos reciclados, mitos urbanos não confirmados, arrivistas e líderes de opinião. Futeboleiros, beatos e santinhos. Mas também país de cromos, epíteto que não serve a qualquer badameco que pinte a manta [ou um mero guardanapo] na tv. Nem todos marcam a sabedoria de vão de escada, mas também de praça pública, com máximas como "não negue à partida uma ciência que desconhece", popularizada por Alcina Lameiras e é dela que quero tratar. Fontes fidedignas asseguraram-me que este mito fundador da astrologia massificada ensandeceu. Fecha mal a gaveta. Torrou o fusível, peça em desuso nos modernos quadros eléctricos, ai o que será das gerações futuras que sabem tudo de playstation mas nunca ataram um fio de cobre, mas isso são outros quinhentos. Alcina fritou. Period. A pioneira da publicidade quiromante passeia-se pelo Rossio, acompanhada de um boneco "estilo" bébé chamado Samuel. Segunda marta chaves, que pediu o anonimato, Alcina pedia há dias a um motard estacionado na praça que a deixasse fotografar o boneco Samuel sentado no veículo, como quem galhofa com o filhote. Já ricardo machado, que também pediu anonimato, viu Alcina a mudar a fralda ao boneco Samuel em cima de um dos bancos do Rossio, sob o olhar intrigado de turistas, utentes africanos da loja da PT, vendedores de haxixe e outros convivas do costume.
Há uma dúvida que me assalta. Terá Alcina previsto o seu infortúnio? Nunca de soube se Zandinga terá antecipado que iria morrer na banheira, qual jim morrison português, mas mais profético e carismático. Seja como for, Alcina agoniza. E tenho para mim que um país que não protege os seusquirólogos e cartomantes é um país sem futuro.