quarta-feira, abril 12, 2006

Das diferenças que fazem a diferença # 9

intelectual que se preze tem na figura feminina fonte de inspiração, de sublimação do eu, do nós, do vós, do eles. Tecem loas a musas em pontos inspiradores [e com classe] por esse mundo fora. Imbuídos da necessidade de idealizar uma influência positiva por via de almas e corpos curvilíneos poderíamos encontrá-los tecendo odes à Vitória de Samotrácia em Paris. Ou defronte das Demoiselles d'Avignon em pleno MoMA, de mão dada com as madrinhas/tias/avós. Mulheres que respiram cultura, dado que elas próprias são representações que tornam inequívoco o génio do Homem. O facto de as musas substituirem as mulheres verdadeiras na vivência erótica dos intelectuais não é assunto que queira aqui aprofundar. Diria apenas que, no meu caso, a minha mulher é a minha maior fonte inspiradora. Conhecida nalguns circuitos como a Rainha dos Ciganos chega-me a casa com estórias como a do pequeno Maranu [Luis] do bairro do Zambujal, colado portanto à modernidade sueca do IKEA, que tem 11 anos e que está prometido em casamento à Xanaiza [Núria] de 10 anos, habitante do bairro da Ameixoeira, e colada apenas a cercanias de degredo. Espera-se que quando chegar a altura de consumar a união, ou seja daqui por 3 ou 4 anos, o pai de Xanaiza, conhecido como "Mô", já tenha saído do estabelecimento prisional porque na voz da família "ele trafica mas não merecia estar preso, é uma injustiça, é um moço bonzinho que nunca fez mal a ninguém", cumprindo-se assim boda a preceito com os progenitores a assistirem deleitados, enquanto os parentes masculinos disparam tiros para o ar.

Cada um tem a musa que merece, lá diz o povo, soberano. Eu tenho a minha, amantíssima, e tenho este blogue. Todas as coisas têm uma explicação.