domingo, setembro 18, 2005


Burrices

ontem a minha cidade - shame on me - foi palco de mais uma manifestação abertamente fascista devidamente enquadrada e autorizada pelo governo civil, atropelando-se mais uma vez a Constituição que, diga-se, anda muito maltratada. Se fosse um documento respeitado e decente não daria vontade de rir ler boas vontades como "Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação". Há-de haver uma adenda futura que contemple a figura dos empréstimos a 50 anos, acho eu. Bom, mas voltando à vaca fria. Desta vez o pretexto para os neonazis e demais transtornados da guerra colonial sairem à rua foi o pretenso protagonismo dos gays na nossa sociedade. Como álibi usaram um programa boçal que se estreou por estes dias. Depois da diatribe contra os imigrantes e da homenagem a Rudolf Hess salta-lhes a mola com os "maricas". À guisa de justificação afirmam que 80% dos pedófilos são homossexuais. Que vem num estudo, dizem eles. Na Internet, asseguram. Deve ser o mesmo estudo que afiança que 97% dos fascistas portugueses sofre de disfunção eréctil ou que 83% dos admiradores de Salazar nunca beberam leite materno. A atitude da polis tem sido assobiar para o ar e esperar que passe. Entretanto vai-se aceitando como natural o hino cantado com saudação nazi a acompanhar. Assim se vai ganhando notoriedade no pior de todos os sistemas, com excepção de todos os outros.
Quanto ao programa que serviu de pretexto, concordo que o povo se devia manifestar contra ele, uma vez que a boçalidade no ecrã parece não ter fim. Estereotipar de uma forma absurda e caricatural os homossexuais não me parece um bom caminho para a propalada abertura das mentalidades. É de uma pobreza confrangedora e cava mais fundo os preconceitos. Se houver um protesto neste sentido convidem-me que eu apareço. Já basta de ver a caixa mágica bater no fundo. E quanto mais bate no fundo mais ele desce, como se sabe. Pronto, agora buga todos para casa ler o Mein Kampf e ver um filme tótil do chuck norris.