quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Parábola de um acossado que me lembra alguém pela pena do Sérgio dos Arquivos Mortos [ roubada com a devida permissão ]

O acossado

O homem senta-se. Olha para a câmara. As mãos passeiam. Contorce-se. Descai, o fato amarrotado. Olha para o jornalista. A gravata dança sobre a camisa. O homem fala. O jornalista ouve, e milhares ouvem. As palavras hesitam, balançam, encavalitam-se umas nas outras, o homem tropeça nas sílabas. O homem fala. Alguém o ouvirá? o homem assim, de encontro à parede onde o encurralaram, pela frente a lâmina dos adversários, atrás o punhal dos aliados. O homem salta, desvia, dispara a bala do canhão contra a rede elástica, sente-se desamparado. Enfurece-se, e ninguém o ouve já. Perdeu-se, apenas inspira a vergonha e a pena. O escárnio. Pobre país aquele onde o homem vive, piedade para o acossado.