quarta-feira, fevereiro 16, 2005

De debate em debate, até à urna final

Sim, eu gosto de campanhas eleitorais. Sim, eu gosto de debates políticos ou arraçados de tal, dão-me um gozo tremendo e já estava com formigueiro para vir escrever sobre o de ontem. O debate do 5-1=4, para desespero da classe operática.

A refrega começa com Santana de gravata preta porque o homem também chora e reza e ama e ama. E com isto não se brinca só que o da Defesa ouvi os bispos e foi de azul escuro por causa das coisas (olá Esteves Cardoso). O dito da Defesa começou ao ataque. Que tal e coisa, que ia falar pela positiva, mas acusa o robótico Sócrates de chamar todos os nomes (olá Saramago) a Bagão Félix. A bola saltita para o filósofo, que nem tem feito muito para conquistá-la, e esquiva-se à primeira pergunta como o diabo da cruz. Articula as rimas das palavras acabadas em "ança", qual ladainha popualr - confiança, esperança, nem que seja de levar um pontapé na pança. Dispara cartuchos sobre o governo e a proto-classe média do Sr Defesa, e faz revienga e acaba MESMO por não responder à pergunta. O Guerreiro Menino vem e alça dos gráficos, tanto papel branco ele brandiu, é a fé na celulose que o pode manter no trono. Atira culpas ao ausente-presente Guterres e afirma que este lhe baixou a curva. Pouca sorte, a da confiança. Vem Jerónimo e a garganta pariu um rato. Calam a voz à classe operária num passe de mágica. Teme-se que se tenha partido a fita da cassete, logo agora quando começava a dar mostras de chegar ao CD. É o elo mais fraco, adeus e até já. Louçã, tal como o Sr Defesa diz "ainda bem que me faz essa pergunta", pareciam afinados e combinados, como Yin e Yang dos comunas e reaças. Agradecem mas depois respondem o que lhes apetece. Espectador, queres respostas? Toma e embrulha ou compra nos mosqueteiros, que têm sempre coisinhas em conta. A chatice do desemprego vem à baila e os 150.000 abençoados de Sócrates percebem que não são mesmo promessa, mas sim, objectivo. Há quem tenha o objectivo de ver as partes íntimas da Angelina Jolie ou do Clooney e provavelmente só com promessas é que lá vão...enfim, bola para a frente, que uma das milagreiras do burgo já foi andando. Mas também não são empregos a brincar porque o engenheiro garante que o que está nos cartazes é verdade. Mesmo a cor dos seus olhos, da qual o Lopes desconfia. Afinal o mesmo Lopes, o homem que confiava nas estrelas em registo misto de Gabriel Alves e Zandinga não quer falar do futuro. Prefere assumir que a Direita acredita na indústria da celulose e vai mostrando folha atrás de folha, mas só as que lhe interessam. O Sr Defesa é mais ambicioso do que o filósofo e pretende não 150.000 empregos mas sim 150.000 EMPRESÁRIOS. Ora 150.000 x nº empregos elevados a N ramos de actividade = grandes vagas de imigração para preencher tanto lugar ao Sol. Bolas, lá se vai o discurso da contenção e da integração suave. Também se fica a saber que um democrata-cristão não fecha portas de empresa. Malditos ateus do Vale do Ave, compram ferraris cor da luxúria e piram-se como demónios. Louçã marimba-se nos gráficos e confia na verve. Deve tê-los deixado ao pé da gravata e dos casacos bonitos. Saca da carta na manga e põe o Totta à mostra. Choque e pavor, Sr Lopes dos Bosques diz que pôs a mão no mel, está desvendado o segredo do cabelo empastado. O Filósofo cavalga a onda radical de esquerda e ajuda o xerife de Nottingham. Entretanto Jerónimo tenta regressar às lides - más línguas dizem que não se sentiu a sua falta - quem dera a Santana ter a garganta arranhada para brincar aos mártires. Sócrates desmonta o cavalo da banca e quer que o barafustanço fique para os radicais de serviço, porque no fundo concorda mas também não. Opta antes por atacar o Sr Lopes com a Matemática e o Sr Lopes rebate com a certeza que Deus aumentou a esperança de vida. Mais uma cunha e talvez engorde as reformas, quem sabe? Louçã avança com "aquela cena da solidariedade entre gerações e tal". O democrata-cristão de serviço lamenta em silêncio a oportunidade perdida e ainda por cima atura teoria económica em velocidade trotskista. Santana puxa ao vídeo do guerreiro-menino e mostra o pai viúvo. Momento lágrima, chora, sangra, ama e ama. O Sr Defesa afinal reconhece que é radical mas "saudável" (?), uma variante do revolucionário cordato. Busca por técnicos para empregar e por coincidência saem todos da cartola das suas pastas - Mar (aquele secretário da praia e barco, lembram-se?), Turismo (quem?) e Ambiente (aquele ministro da casa na Arrábida, lembram-se?). Os 3 técnicos fundidos soam-me a empregados de mesa numa esplanada da Caparica. Fica a sugestão de modernidade.

Dá-se o intervalo, mudo de canal e vejo que Galileu morreu há uma data de anos, depois de renegar o que tinha dito. Se vivesse hoje tinha lugar no debate. Supõe-se que Jerónimo tenha ido telefonar ao Melo D, em busca da mebocaína e das good vibes. Afinal acaba por abandonar o ringue e Louçã fica sozinho a garantir que o Filósofo não pisca o olho à Direita.

No que toca à Escola todos querem que a geração "Dah!" e "Troll" ande 12 anitos a marchar, quando nem aos 9 chegam, é a teoria do grande salto em frente só que em vez de aço temos giz e lousas e fabrico de lareiras para mestres-escola do interior. O Sr Lopes regressa todo ressabiado com o assunto dos bancos, traz o Guterres outra vez ao baile, o grande satã da internacional boçalista de orelhas a arder. O Lopes embala e apelida Louçã de evangelista. O democrata-cristão de serviço engole ooutra vez em seco com a usurpação do lugar da Fé. A Portucel é que vai esfregando as rotativas de contente, o Sr Defesa afiambra um molho de folhas para falar aos pobrezinhos, que nem devem saber o que é um A4. E vai de cartolinas, ciclo da Saúde em sistema ClipArt e por portas e travessas vai apresentando o seu governo Playmobil em cada intervenção. Fala-se na Saúde e tremo com a perspectiva de virem aí os fracturantes outra vez, ainda por cima aqueles que nada têm a ver com ossos. Vem droga para a mesa, Louçã recebe no peito, recreia-se com a "chicha" e chuta com uma caneta BIC, à falta da Montblanc da esquerda Lux. Os outros mudos e quedos. Afinal ainda não somos a Holanda, uff, que esses gajos nem gostam de almoçar. Repórter que é repórter fala de cenários e hipóteses, Sócrates repete maioria, maioria, maioria, Santana aposta na cabala, não se sabe se involuntária ou à gomes da silva (olá bacalhau), mas agora já não quer falar nela porque já falou nela antes e também na RTP. Entendidos? Evoca mas não concretiza. Louçã recusa a existência do pacto de sangue à tom sawyer e Santana rumoreja em fundo qual Statler ou Waldorf dos Marretas. É velho precoce e duvida-se que chegue à sua própria idade de reforma. O Sr Defesa bate com a cabeça nos dois dígitos de tanto lhes querer chegar mas já se esqueceu que a promessa era CDS > BE + CDU. Talvez não goste de matemática, durante o debate assumiu gostar mais da Sociologia e da História dos desempregados. Ou então anda a comer queijo daquele autarca que não se pode mencionar, página virada de quem pretensamente roubou a maioria mas que perdeu essa vantagem para o flamenguito.

Tudo baralhado, somado e digerido, não houve respostas directas a perguntas certeiras. Não se falou da Europa, Justiça, Cultura, Agricultura, Iraque, Ambiente, Desenvolvimento Sustentável, Assimetrias Litoral-Interior, Formação Profissional e Qualificação. Também para quê? Já estou como o malogrado César Monteiro."O público português que se foda".